Jesus Cristo anunciou a decepção a ser sofrida por muitos cristãos no grande “dia do Senhor”, quando perceberem que toda a sua prática religiosa e expressão de adoração de uma vida inteira foram vãs. Essas pessoas vão descobrir que suas profecias, exorcismos, milagres, cânticos e preces não foram reconhecidos por Deus (Mt 7.22 e 23 e 15.9). Que desilusão!
A adoração é tema central para nossas vidas, e merece atenção especial nos últimos dias, quando o profano está tão perto do sagrado. Afinal, o que torna um culto aceitável a Deus? Que espécie de adoração é reconhecida pelo Céu?
O apóstolo Paulo, escrevendo ao jovem Timóteo, recomenda: “prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina... e se recusarão a dar ouvidos à verdade...” (II Tm 4 2-4) Grifo do autor.
Este é, sem dúvida, um dos textos mais solenes para estes dias. Exatamente hoje muitas pessoas não estão suportando a verdadeira doutrina bíblica. É tempo de retornar à Palavra.
Não há outra maneira de obtermos segurança quanto à legitimidade de nossa adoração, a não ser na Palavra, pois é ela que atesta a “sã doutrina”, inclusive a doutrina da adoração. É a Palavra que normatiza o culto.
No mundo atual há uma generalizada busca por sensações, uma demanda por excitações. No culto e nas igrejas não é diferente. As pessoas querem emoções. Mas, a adoração embasada na Palavra é racional (Rm 12.1).
Não se pode minimizar a importância do papel da Palavra no culto. É ela que prepara e habilita à adoração genuína. É ela que identifica o objeto da adoração (Deus). Ela indica as atitudes e o espírito adequado ao exercício da adoração, e ainda transfere o caráter de quem é adorado.
Portanto, grande erro é cometido ao se desenvolver qualquer programa ou encontro na casa de Deus, sem a centralidade da Palavra. Na igreja qualquer programa será fútil e vazio se a Palavra não ocupar a posição primordial.
Qualquer concentração da igreja seja um encontro jovem, um culto evangelístico que não oferecer a Palavra ou se atribuir a ela posição secundária, poderá levar os presentes a qualquer reação, menos a uma atitude de adoração.
Os cânticos têm o poder de impressionar e emocionar, mas é a Palavra que tem o poder de transformar. O espetáculo pode atrair público, mas quem vai converter é a Palavra apresentada no poder do Espírito (Hb 4.12).
Por tudo isso, a Palavra deve exercer papel central no culto. Caso contrário, os adoradores ficam privados do referencial para a adoração autêntica e perdem a sintonia com o Céu.
Pode-se dizer que adoração sem revelação ou culto sem uso da Palavra, é mesa vazia, congregação faminta, multidão sem pão e assembléia sem Deus.
A adoração autenticada por Deus e o culto reconhecido pelo Céu tem a Palavra como seu núcleo. E este é o único culto que verdadeiramente alimenta e edifica o adorador.
Quando buscamos na Bíblia diretriz para a adoração verdadeira, encontramos as informações necessárias para a identificação de sua natureza. Há duas cenas bíblicas em que nitidamente o culto verdadeiro e o falso foram contrastados.
Elas servem de referência para a análise do culto.
O confronto entre a verdadeira e a falsa adoração é antigo.
Remonta o tempo dos filhos de Adão. Caim estabeleceu um padrão próprio de adoração (Gn 4.3 e 5). Abel, por sua vez, seguiu o padrão de adoração estabelecido por Deus (Gn 4.4).
Enquanto a adoração de Caim foi pomposa, atraente, chamativa, de fazer barulho, a de Abel foi simples, pura e obediente.
Caim usou um padrão humano, baseado na racionalização humana. Mas, a adoração legítima é regulada, não pela vontade humana, mas pela racionalização prescrita pelo “Assim diz o Senhor”.
E foi nesta base que a adoração de Abel foi estabelecida, e logo autenticada pelo Senhor: A história de Caim e Abel revela que existe apenas um padrão de adoração que o céu autoriza: o padrão que o próprio Deus estabeleceu em Sua Palavra.
Outro episódio bíblico bastante esclarecedor é o desafio entre Elias e os profetas de Baal. O contraste entre as atitudes adotadas de cada lado é bem perceptível.
Os profetas de Baal invocaram seu deus com “saltos, contorções e gritos histéricos, arrancando os cabelos e retalhando as próprias carnes”. A natureza desta adoração foi caracterizada pelo barulho e pelo espírito de espetáculo. E não houve resposta, não houve fogo para consumir o sacrifício.
Já a natureza da adoração do profeta Elias foi outra. O gesto de culto foi singelo: Ele “orou com simplicidade e fervor”.
A natureza de sua adoração foi diferente porque a natureza do seu Deus é outra. E qual é a natureza do Deus de Elias?
Não nos enganemos Deus não está no “forte vento” do ruído. Deus não está no “terremoto” do espetáculo. Deus não está no “fogo” dos saltos e gritos histéricos. Deus está na “mansa e suave brisa” do Seu Espírito.
Esta é a natureza do Deus da Bíblia: decência, ordem e solenidade. E como o adorador se comporta bem de acordo com a natureza do seu Deus, imitando-lhe o caráter, os verdadeiros adoradores estarão ajustados a este padrão de adoração.
A natureza da verdadeira adoração é, portanto, o que distingue o culto genuíno do falso. E conforme ficou verificado, na identificação da natureza desta legítima adoração, a palavra exerce papel fundamental. E a Palavra em última instância é Jesus (Jo 1.1). Dispensar a Palavra é então, dispensar Jesus. E sem Jesus não sobra nada, a não ser sensações vazias.
Hoje quando a controvérsia entre a verdadeira e a falsa adoração se intensifica, voltemos à Bíblia. Nela está a adoração que o Céu reconhece segundo Paulo, racional, centralizada na Palavra.
Conforme modelada por Abel, enquadra-se a um padrão divino, e não a um padrão humano. De acordo com o exemplo de Elias, ela é simples, fervorosa e solene, pois, a natureza do nosso Deus é distinta da de Baal. Ele não está na ostentação, nem nas contorções, nem no ruído. Ele se manifesta na voz mansa e delicada do Seu Espírito.
Deus abençoe!
Rafael Cardoso.
1 comentários:
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